Uma questão de Temperatura

Certo dia, o Calor e o Frio, que sempre andavam desavindos, e em sentidos opostos em tudo na vida, tiveram um choque frontal. Apesar da velocidade a que se deslocavam, foi a teimosia e casmurrice que levou ao evitável embate. A verdade é que nem o frio nem o calor se desviaram por orgulho. Do acidente resultou algo nunca visto: uma fusão! Este fenómeno de choque chocou todos, mas muito mais os amigos e conhecidos de ambos que agora não os podiam reconhecer. É que apesar do resultado acidental ter dado origem a apenas um, no interior do novo corpo continuavam a viver as personalidades dos dois. O Frio era calmo e ponderado, à excepção de quando se cruzava com o Calor é claro. O Calor era corajoso e extemporâneo. Assim, quando se tentava falar com um deles o tom da resposta e do temperamento eram aleatórios. Procurou-se então solução junto dos mais sábios. O Tempo, que era um dos mais experientes, inventou um artefacto a que chamou termómetro e que permitia medir, no momento, qual a personalidade dominante, se a do Frio ou a do Calor. O novo corpo partilhado passaria desde então a usar o novo talismã e não mais se confundiria o Frio com o Calor. Dizia-se que era uma questão de temperatura.

Nota: este foi um dos contos vencedores do concurso/desafio "per5pectivas", lançado em 2011 pela "ECO - Associação cultural de Leiria" e pelo Semanário Região de Leiria.

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