Rabiscos de fição política #1 - Nomeações


Que ambiente podre”, suspirou um.
São todos uns filhos da p…”, rugiu outra.

O corrupio nos corredores tinha cessado e o ambiente estava aparentemente calmo. As promessas caiam à medida que cada um ia revelando a sua máscara. Caíram até aqueles disfarces de quem os tinha esquecido que envergava por hábito. Estávamos em época de eleições, parecia estranho mas era tudo normal. Ainda ecoavam as frases feitas do costume e já se pensava em vinganças, umas para servir a frio outras a quente, quando fosse mais saboroso. Já os agradecimentos haveriam de ficar esquecidos como sempre.

Não é fácil fazer listas”, diziam.
“O mérito é aquilo que mais quero garantir na minha equipa”, aspiravam.
Eu mereço mais que ninguém”, revoltavam-se.

Tudo coisas gastas e que todos tinham ouvido e proferido vezes sem conta, sabendo que eram tão relativas como tudo o resto. O partido só não respondia porque não existia. No fundo aquilo era apenas um grupo de pessoas que pouco ou nada tinham em comum para além de acharem que gostavam de política, pelos moldes que os meios de comunicação a apresentavam e as más práticas deturpavam. Ou então era apenas um grupo porque eram pouco mais que um, cada um por si.

Injustiça, injustiça”, gritavam todos os excluídos.

Eram tantos aqueles cujas aspirações foram desfraldadas e em igualmente número os descontentes que, apesar de tudo, atingiam os seus objetivos. Mas como poderia ser de outra forma? Nunca se podia dar tudo a todos, especialmente porque quase ninguém sabia o que queria afinal. No fundo o que todos queriam era a felicidade, mesmo inconscientes da infelicidade que isso poderia proporcionar. A Democracia era aquela coisa estranha que trazemos na ponta da língua e longe da prática de exercício do poder. A democracia era aquela coisa que adjetiva sem substanciar.

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